Origem da Profissão
A profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas foram as primeiras formas de prestação de assistência. Num primeiro estágio da civilização, estas ações garantiam ao homem a manutenção da sua sobrevivência, estando na sua origem, associadas ao trabalho feminino, caracterizado pela prática do cuidar nos grupos nômades primitivos, tendo como pano-de-fundo as concepções evolucionistas e teológicas, Mas, como o domínio dos meios de cura passaram a significar poder, o homem, aliando este conhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e apoderou-se dele. Quanto à Enfermagem, as únicas referências concernentes à época em questão estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a atuação pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes.As práticas de saúde mágico-sacerdotais, abordavam a relação mística entre as práticas religiosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos templos. Este período corresponde à fase de empirismo, verificada antes do surgimento da especulação filosófica que ocorre por volta do século V a.C. Essas ações permanecem por muitos séculos desenvolvidas nos templos que, a princípio, foram simultaneamente santuários e escolas, onde os conceitos primitivos de saúde eram ensinados. Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da arte de curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes centros do comércio, nas ilhas e cidades da costa.Naquelas escolas pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, concepções essas, que, por muito tempo, marcaram a fase empírica da evolução dos conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da filosofia e das artes e os estudantes viviam em estreita ligação com seus mestres, formando as famílias, as quais serviam de referência para mais tarde se organizarem em castas. As práticas de saúde no alvorecer da ciência - relacionam a evolução das práticas de saúde ao surgimento da filosofia e ao progresso da ciência, quando estas então se baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C., estendendo-se até os primeiros séculos da Era Cristã.
A prática
de saúde, antes mística e sacerdotal, passa agora a ser um produto desta nova
fase, baseando-se essencialmente na experiência, no conhecimento da natureza,
no raciocínio lógico - que desencadeia uma relação de causa e efeito para as
doenças - e na especulação filosófica, baseada na investigação livre e na
observação dos fenômenos, limitada, entretanto, pela ausência quase total de
conhecimentos anatomofisiológicos. Essa prática individualista volta-se para o
homem e suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é
considerado pela medicina grega como período hipocrático, destacando a figura
de Hipócrates que como já foi demonstrado no relato histórico, propôs uma nova
concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e
sacerdotais, através da utilização do método indutivo, da inspeção e da
observação. Não há caracterização nítida da prática de Enfermagem nesta época.
As
práticas de saúde monástico-medievais focalizavam a influência dos fatores
sócio-econômicos e políticos do medievo e da sociedade feudal nas práticas de
saúde e as relações destas com o cristianismo. Esta época corresponde ao
aparecimento da Enfermagem como prática leiga, desenvolvida por religiosos e
abrange o período medieval compreendido entre os séculos V e XIII. Foi um
período que deixou como legado uma série de valores que, com o passar dos
tempos, foram aos poucos legitimados a aceitos pela sociedade como
características inerentes à Enfermagem. A abnegação, o espírito de serviço, a
obediência e outros atributos que dão à Enfermagem, não uma conotação de
prática profissional, mas de sacerdócio.
As
práticas de saúde pós monásticas evidenciam a evolução das ações de saúde e, em
especial, do exercício da Enfermagem no contexto dos movimentos Renascentistas
e da Reforma Protestante. Corresponde ao período que vai do final do século
XIII ao início do século XVI. A retomada da ciência, o progresso social e intelectual
da Renancença e a evolução das universidades não constituíram fator de
crescimento para a Enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos,
permaneceu empírica e desarticulada durante muito tempo, vindo desagregar-se
ainda mais a partir dos movimentos de Reforma Religiosa e das conturbações da
Santa Inquisição. O hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre
depósito de doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas
dependências, amontoados em leitos coletivos.
Sob
exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões
morais que a sustentava, a prática de enfermagem tornou-se indigna e sem
atrativos para as mulheres de casta social elevada. Esta fase tempestuosa, que
significou uma grave crise para a Enfermagem, permaneceu por muito tempo e
apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores,
que partiram, principalmente, de iniciativas religiosas e sociais, tentam
melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais.
As
práticas de saúde no mundo moderno analisam as ações de saúde e , em especial,
as de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade
capitalista. Ressaltam o surgimento da Enfermagem como atividade profissional
institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução Industrial no século
XVI e culmina com o surgimento da Enfermagem moderna na Inglaterra, no século
XIX.
Enfermagem Moderna
O avanço
da Medicina vem favorecer a reorganização dos hospitais. É na reorganização da
Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal responsável
por esta reordenação, que vamos encontrar as raízes do processo de disciplina e
seus reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da fase sombria em que esteve
submersa até então.
Naquela
época, estiveram sob piores condições, devido a predominância de doenças
infecto-contagiosas e a falta de pessoas preparadas para cuidar dos doentes. Os
ricos continuavam a ser tratados em suas próprias casas, enquanto os pobres,
além de não terem esta alternativa, tornavam-se objeto de instrução e
experiências que resultariam num maior conhecimento sobre as doenças em
benefício da classe abastada.
É neste
cenário que a Enfermagem passa a atuar, quando Florence Nightingale é convidada
pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados
feridos em combate na Guerra da Criméia.
Período Florence Nightingale
Nascida a
12 de maio de 1820, em Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía
inteligência incomum, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança - o
que lhe permitia dialogar com políticos e oficiais do Exército, fazendo
prevalecer suas idéias. Dominava com facilidade o inglês, o francês, o alemão,
o italiano, além do grego e latim.
No desejo
de realizar-se como enfermeira, passa o inverno de 1844 em Roma, estudando as
atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem ao Egito e
decide-se a servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as
diaconisas.
Decidida
a seguir sua vocação, procura completar seus conhecimentos que julga ainda
insuficientes. Visita o Hospital de Dublin dirigido pela Irmãs de Misericórdia,
Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20 anos antes. Conhece as Irmãs de
Caridade de São Vicente de Paulo, na Maison de la Providence em Paris.
Aos
poucos vai se preparando para a sua grande missão. Em 1854, a Inglaterra, a
França e a Turquia declaram guerra à Rússia: é a Guerra da Criméia. Os soldados
acham-se no maior abandono. A mortalidade entre os hospitalizados é de 40%.
Florence
partiu para Scutari com 38 voluntárias entre religiosas e leigas vindas de
diferentes hospitais. Algumas enfermeiras foram despedidas por incapacidade de
adaptação e principalmente por indisciplina. A mortalidade decresce de 40% para
2%. Os soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela será imortalizada como a
"Dama da Lâmpada" porque, de lanterna na mão, percorre as
enfermarias, atendendo os doentes. Durante a guerra contrai tifo e ao retornar
da Criméia, em 1856, leva uma vida de inválida.
Dedica-se
porém, com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos trabalhos na Criméia, recebe
um prêmio do Governo Inglês e, graças a este prêmio, consegue iniciar o que
para ela é a única maneira de mudar os destinos da Enfermagem - uma Escola de
Enfermagem em 1959.
Após a
guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas, que
passou a servir de modelo para as demais escolas que foram fundadas
posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era uma das
características da escola nightingaleana, bem como a exigência de qualidades
morais das candidatas. O curso, de um ano de duração, consistia em aulas
diárias ministradas por médicos.
Nas
primeiras escolas de Enfermagem, o médico foi de fato a única pessoa
qualificada para ensinar. A ele cabia então decidir quais das suas funções
poderiam colocar nas mãos das enfermeiras. Florence morre em 13 de agosto de
1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem. Assim, a Enfermagem surge
não mais como uma atividade empírica, desvinculada do saber especializado, mas
como uma ocupação assalariada que vem atender a necessidade de mão-de-obra nos
hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e
específica.
Primeiras
Escolas de Enfermagem
Apesar
das dificuldades que as pioneiras da Enfermagem tiveram que enfrentar, devido à
incompreensão dos valores necessários ao desempenho da profissão, as
escolas se espalharam pelo mundo, a partir da Inglaterra. Nos Estados Unidos a
primeira Escola foi criada em 1873. Em 1877 as primeiras enfermeiras diplomadas
começam a prestar serviços a domicílio em New York.
As
escolas deveriam funcionar de acordo com a filosofia da Escola Florence
Nightingale, baseada em quatro idéias-chave:
1- O
treinamento de enfermeiras deveria ser considerado tão importante quanto
qualquer outra forma de ensino e ser mantido pelo dinheiro público.
2- As
escolas de treinamento deveriam ter uma estreita associação com os hospitais,
mas manter sua independência financeira e administrativa.
3-
Enfermeiras profissionais deveriam ser responsáveis pelo ensino no lugar de
pessoas não envolvidas em Enfermagem.
4- As
estudantes deveriam, durante o período de treinamento, ter residência à
disposição, que lhes oferecesse ambiente confortável e agradável, próximo ao
hospital.
Sistema
Nightingale de Ensino
As
escolas conseguiram sobreviver graças aos pontos essenciais estabelecidos:
1º.
Direção da escola por uma Enfermeira.
2º. Mais
ensino metódico, em vez de apenas ocasional.
3º.
Seleção de candidatos do ponto de vista físico, moral, intelectual e aptidão
profissional.
História
da Enfermagem no Brasil
A
organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira começa no período colonial e
vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma simples prestação de
cuidados aos doentes, realizada por um prupo formado, na sua maioria, por
escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios. Desde o princípio da
colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram
origem em Portugal.
A
primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em
seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e
Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a
presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina.
No
que diz respeito à saúde do povo brasileiro, merece destaque o trabalho do
Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses.
Foi além. Atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico e
enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus
primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns.
A
terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuncioasamente
descritas. Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado
por pessoas treinadas por eles. Não há registro a respeito.
Outra
figura de destaque é Frei Fabiano Cristo, que durante 40 anos exerceu
atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro (Séc.
XVIII).
Os
escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado aos
doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a
Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras medidas de
proteção à maternidade que se conhecem na legislação mundial, graças a atuação
de José Bonifácio Andrada e Silva. A primeira sala de partos funcionava na Casa
dos Expostos em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de
Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira
parteira formada no Brasil.
No começo
do século XX, grande número de teses médicas foram apresentadas sobre Higiene
Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrindo horizontes e
novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não teve influência
imediata sobre a Enfermagem.
Assim
sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de destacaram
e, entre eles, merece especial menção o de Anna Nery.
Anna Nery
Aos 13 de
dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira, na Cidade de Cachoeira, na
Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antonio Nery, enviuvando aos 30 anos.
Seus dois
filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a
Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), sob a presidência de Solano
Lopes. O mais jovem, aluno do 6º ano de Medicina, oferece seus serviços médicos
em prol dos brasileiros.
Anna Nery
não resiste à separação da família e escreve ao Presidente da Província,
colocando-se à disposição de sua Pátria. Em 15 de agosto parte para os
campos de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam. Improvisa hospitais
e não mede esforços no atendimento aos feridos.
Após
cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com carinho e louvor, recebe uma
coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no edifício
do Paço Municipal.
O governo
imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha.
Faleceu
no Rio de Janeiro a 20 de maio de 1880.
A
primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome. Anna Nery
que, como Florence Nightingale, rompeu com os preconceitos da época que faziam
da mulher prisioneira do lar.
Desenvolvimento
da Educação em Enfermagem no Brasil (Séc. XIX)
Ao final
do século XIX, apesar de o Brasil ainda ser um imenso território com um
contigente populacional pouco e disperso, um processo de urbanização lento e
progressivo já se fazia sentir nas cidades que possuíam áreas de mercado mais
intensas, como São Paulo e Rio de Janeiro.
As
doenças infecto-contagiosas, trazidas pelos europeus e pelos escravos
africanos, começam a propagar-se rápida e progressivamente.
A questão
saúde passa a constituir um problema econômico-social. Para deter esta escalada
que ameaçava a expansão comercial brasileira, o governo, sob pressões externas,
assume a assistência à saúde através da criação de serviços públicos, da
vigilância e do controle mais eficaz sobre os portos, inclusive estabelecendo
quarentena revitaliza, através da reforma Oswaldo Cruz introduzida em 1904, a
Diretoria-Geral de Saúde Pública, incorporando novos elementos à estrutura
sanitária, como o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, a Inspetoria de
Isolamento e Desinfecção e o Instituto Soroterápico Federal, que posteriormente
veio se transformar no Instituto Oswaldo Cruz.
Mais
tarde, a Reforma Carlos Chagas (1920), numa tentativa de reorganização dos
serviços de saúde, cria o Departamento Nacional de Saúde Pública, Órgão que,
durante anos, exerceu ação normativa e executiva das atividades de Saúde
Pública no Brasil.
A
formação de pessoal de Enfermagem para atender inicialmente aos hospitais civis
e militares e, posteriormente, às atividades de saúde pública, principiou com a
criação, pelo governo, da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, no
Rio de Janeiro, junto ao Hospital Nacional de Alienados do Ministério dos
Negócios do Interior. Esta escola, que é de fato a primeira escola de
Enfermagem brasileira, foi criada pelo Decreto Federal nº 791, de 27 de
setembro de 1890, e denomina-se hoje Escola de Enfermagem Alfredo Pinto,
pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro - UNI-RIO.
Cruz Vermelha Brasileira
A Cruz
Vermelha Brasileira foi organizada e instalada no Brasil em fins de 1908, tendo
como primeiro presidente o médico Oswaldo Cruz. Destacou-se a Cruz Vermelha
Brasileira por sua atuação durante a I Guerra Mundial (1914-1918).
Durante a
epidemia de gripe espanhola (1918), colaborou na organização de postos de
socorro, hospitalizando doentes e enviando socorristas a diversas instituições
hospitalares e a domicílio. Atuou também socorrendo vítimas das inundações, nos
Estados de Sergipe e Bahia, e as secas do Nordeste. Muitas das socorristas
dedicaram-se ativamente à formação de voluntárias, continuando suas atividades
após o término do conflito.
Primeiras Escolas de Enfermagem no Brasil
1. Escola
de Enfermagem "Alfredo Pinto"
Esta
escola é a mais antiga do Brasil, data de 1890, foi reformada por Decreto de 23
de maio de 1939. O curso passou a três anos de duração e era dirigida por
enfermeiras diplomadas. Foi reorganizada por Maria Pamphiro, uma das pioneiras
da Escola Anna Nery.
2. Escola
da Cruz Vermelha do Rio de Janeiro
Começou
em 1916 com um curso de socorrista, para atender às necessidades prementes da
1ª Guerra Mundial. Logo foi evidenciada a necessidade de formar profissionais
(que desenvolveu-se somente após a fundação da Escola Anna Nery) e o outro para
voluntários. Os diplomas expedidos pela escola eram registrados inicialmente no
Ministério da Guerra e considerados oficiais. Esta encerrou suas atividades.
3. Escola
Anna Nery
A
primeira diretoria foi Miss Clara Louise Kienninger, senhora de grande
capacidade e virtude, que soube ganhar o coração das primeiras alunas. Com
habilidade fora do comum, adaptou-se aos costumes brasileiros. Os cursos
tiveram início em 19 de fevereiro de 1923, com 14 alunas. Instalou-se pequeno
internato próximo ao Hospital São Francisco de Assis, onde seriam feitos os
primeiros estágios. Em 1923, durante um surto de varíola, enfermeiras e alunas
dedicaram-se ao combate à doença. Enquanto nas epidemias anteriores o índice de
mortalidade atingia 50%, desta vez baixou para 15%. A primeira turma de
Enfermeiras diplomou-se em 19 de julho de 1925.
Destacam-se
desta turma as Enfermeiras Lais Netto dos Reys, Olga Salinas Lacôrte, Maria de
Castro Pamphiro e Zulema Castro, que obtiveram bolsa de estudos nos Estados
Unidos. A primeira diretora brasileira da Escola Anna Nery foi Raquel Haddock
Lobo, nascida a 18 de junho de 1891. Foi a pioneira da Enfermagem moderna no
Brasil. esteve na Europa durante a Primeira Grande Guerra, incorporou-se à Cruz
Vermelha Francesa, onde se preparou para os primeiros trabalhos. De volta ao
Brasil, continuou a trabalhar como Enfermeira. Faleceu em 25 de setembro de
1933.
4. Escola
de Enfermagem Carlos Chagas
Por
Decreto nº 10.925, de 7 de junho de 1933 e iniciativa de Dr. Ernani Agrícola,
diretor da Saúde Pública de Minas Gerais, foi criado pelo Estado a Escola de
Enfermagem "Carlos Chagas", a primeira a funcionar fora da Capital da
República. A organização e direção dessa Escola coube a Laís Netto dos Reys,
sendo inaugurada em 19 de julho do mesmo ano. A Escola "Carlos
Chagas", além de pioneira entre as escolas estaduais, foi a primeira a
diplomar religiosas no Brasil.
5. Escola
de Enfermagem "Luisa de Marillac"
Fundada e
dirigida por Irmã Matilde Nina, Filha de caridade, a Escola de Enfermagem Luisa
de Marillac representou um avanço na Enfermagem Nacional, pois abria largamente
suas portas, não só às jovens estudantes seculares, como também às religiosas
de todas as Congregações. É a mais antiga escola de religiosas no Brasil e faz
parte da União Social Camiliana, instituição de caráter confessional da
Província Camiliana Brasileira.
6. Escola
Paulista de Enfermagem
Fundada
em 1939 pelas Franciscanas Missionárias de Maria, foi a pioneira da renovação
da enfermagem na Capital paulista, acolhendo também religiosas de outras Congregações.
Uma das importantes contribuições dessa escola foi início dos Cursos de
Pós-Graduação em Enfermagem Obstétrica. Esse curso que deu origem a tantos
outros, é atualmente ministrado em várias escolas do país.
7. Escola
de Enfermagem da USP
Fundada
com a colaboração da Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP) em 1944, faz
parte da Universidade de São Paulo. Sua primeira diretora foi Edith Franckel,
que também prestara serviços como Superintendente do Serviço de Enfermeiras do
Departamento de Saúde. A primeira turma diplomou-se em 1946.
Entidades de Classe
1. Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn
Sociedade
civil sem fins lucrativos que congrega enfermeiras e técnicos em enfermagem,
fundada em agosto de 1926, sob a denominação de "Associação Nacional de
Enfermeiras Diplomadas Brasileiras". É uma entidade de direito privado, de
caráter científico e assistencial regida pelas disposições do Estatuto,
Regulamento Geral ou Regimento Especial em 1929, no Canadá, na Cidade de
Montreal, a Associação Brasileira de Enfermagem, foi admitida no Conselho
Internacional de Enfermeiras (I.C.N.). Por um espaço de tempo a associação
ficou inativa. Em 1944, um grupo de enfermeiras resolveu reerguê-la com o nome
Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas. Seus estatutos foram aprovados
em 18 de setembro de 1945. Foram criadas Seções Estaduais, Coordenadorias de
Comissões. Ficou estabelecido que em qualquer Estado onde houvesse 7 (sete)
enfermeiras diplomadas, poderia ser formada uma Seção. Em 1955, esse
número foi elevado a 10 (dez). Em 1952, a Associação foi considerada de
Utilidade Pública pelo Decreto nº 31.416/52. Em 21 de agosto de 1964, foi
mudada a denominação para Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn, com sede
em Brasília, funciona através de Seções formadas nos Estados, e no Distrito
Federal, as quais, por sua vez, poderão subdividir-se em Distritos formados nos
Municípios das Unidades Federativas da União.
1.1.
Finalidades da ABEn
-
Congregar os enfermeiros e técnicos em enfermagem, incentivar o espírito de
união e solidariedade entre as classes;
-
Promover o desenvolvimento técnico, científico e profissional dos integrantes
de Enfermagem do País;
-
Promover integração às demais entidades representativas da Enfermagem, na
defesa dos interesses da profissão.
1.2.
Estrutura
ABEn é
constituída pelos seguintes órgãos, com jurisdição nacional:
a)
Assembléia de delegados
b)
Conselho Nacional da ABEn (CONABEn)
c)
Diretoria Central
d)
Conselho Fiscal
1.3.
Realizações da ABEn
- Congresso
Brasileiro em Enfermagem
Uma das
formas eficazes que a ABEn utiliza para beneficiar a classe dos enfermeiros,
reunindo enfermeiros de todo o país nos Congressos para fortalecer a união
entre os profissionais, aprofundar a formação profissional e incentivar o
espírito de colaboração e o intercâmbio de conhecimentos.
- Revista
Brasileira de Enfermagem
A Revista
Brasileira de Enfermagem é Órgão Oficial, publicado bimestralmente e constitui
grande valor para a classe, pois trata de assuntos relacionados à saúde,
profissão e desenvolvimento da ciência. A idéia da publicação da Revista surgiu
em 1929, quando Edith Magalhães Franckel, Raquel Haddock Lobo e Zaira Cintra
Vidal participaram do Congresso do I.C.N. em Montreal, Canadá. Numa das
reuniões de redatoras da Revista, Miss Clayton considerou indispensável ao
desenvolvimento profissional a publicação de um periódico da área. Em maio de
1932 foi publicado o 1º número com o nome de "Anais de
Enfermagem", que permaneceu até 1954. No VII Congresso Brasileiro de
Enfermagem foi sugerida e aceita a troca do nome para "REVISTA BRASILEIRA
DE ENFERMAGEM"- ABEn (REBen). Diversas publicações estão sendo levadas a
efeito: Manuais, Livros didáticos, Boletim Informativo, Resumo de Teses, Jornal
de Enfermagem.
2. Sistema COFEN/CORENs
2.1.
Histórico
a) Criação-
Em 12 de julho de 1973, através da Lei 5.905, foram criados os Conselhos
Federal e Regionais de Enfermagem, constituindo em seu conjunto Autarquias
Federais, vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. O Conselho
Federal e os Conselhos Regionais são Órgãos disciplinadores do exercício da
Profissão de Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Em cada Estado
existe um Conselho Regional, os quais estão subordinados ao Conselho federal,
que é sediado no Rio de Janeiro e com Escritório Federal em Brasília.
b) Direção-
Os Conselhos Regionais são dirigidos pelos próprios inscritos, que formam uma
chapa e concorrem à eleições. O mandato dos membros do COFEN/CORENs é
honorífico e tem duração de três anos, com direito apenas a uma reeleição. A
formação do plenário do COFEN é composta pelos profissionais que são eleitos
pelos Presidentes dos CORENs.
c) Receita-
A manutenção do Sistema COFEN/CORENs é feita através da arrecadação de taxas emolumentos
por serviços prestados, anuidades, doações, legados e outros, dos profissionais
inscritos nos CORENs.
d) Finalidade-
O objetivo primordial é zelar pela qualidade dos profissionais de Enfermagem e
cumprimento da Lei do Exercício Profissional.
O Sistema
COFEN/CORENs encontra-se representado em 27 Estados Brasileiros, sendo este
filiado ao Conselho Internacional de Enfermeiros em Genebra.
2.2.
Competências
-
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN)
- Normatizar e expedir instruções, para uniformidade
de procedimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais;
- Esclarecer dúvidas apresentadas pelos CORENs;
- Apreciar Decisões dos COREns;
- Aprovar contas e propostas orçamentárias de
Autarquia, remetendo-as aos Órgãos competentes;
- Promover estudos e campanhas para
aperfeiçoamento profissional;
- Exercer as demais atribuições que lhe forem
conferidas por lei.
- Conselho
Regional de Enfermagem (COREN)
- Deliberar sobre inscrições no Conselho e seu
cancelamento;
- Disciplinar e fiscalizar o exercício profissional,
observando as diretrizes gerais do COFEN;
- Executar as instruções e resoluções do COFEN;
- Expedir carteira e cédula de identidade
profissional, indispensável ao exercício da profissão, a qual tem validade
em todo o território nacional;
- Fiscalizar e decidir os assuntos referentes à
Ética Profissional impondo as penalidades cabíveis;
- Elaborar a proposta orçamentária anual e o
projeto de seu regimento interno, submetendo-os a aprovação do COFEN;
- Zelar pelo conceito da profissão e dos que a
exercem;
- Propor ao COFEN medidas visando a melhoria do
exercício profissional;
- Eleger sua Diretoria e seus Delegados a nível
central e regional;
- Exercer as demais atribuições que lhe forem
conferidas pela Lei 5.905/73 e pelo COFEN.
2.3.-
Sistema de Disciplina e Fiscalização
O Sistema
de Disciplina e Fiscalização do Exercício Profissional da Enfermagem,
instituído por lei, desenvolve suas atividades segundo as normas baixadas por
Resoluções do COFEN. O Sistema é constituído dos seguintes objetivos:
a) Área
disciplinar normativa: Estabelecendo critérios de orientação e aconselhamento
para o exercício da Enfermagem, baixando normas visando o exercício da
profissão, bem como atividade na área de Enfermagem nas empresas, consultórios
de Enfermagem, observando as peculiaridades atinentes à Classe e a conjuntura
de saúde do país.
b) Área
disciplinar corretiva: Instaurando processo em casos de infrações ao Código de
Ética dos Profissionais de Enfermagem, cometidas pelos profissionais inscritos
e, no caso de empresa, processos administrativos, dando prosseguimento aos
respectivos julgamentos e aplicações das penalidades cabíveis; encaminhando às
repartições competentes os casos de alçada destas.
c) Área
fiscalizatória: Realizando atos e procedimentos para prevenir a ocorrência de
Infrações à legislação que regulamenta o exercício da Enfermagem; inspecionando
e examinando os locais públicos e privados, onde a Enfermagem é exercida,
anotando as irregularidades e infrações verificadas, orientando para sua
correção e colhendo dados para a instauração dos processos de competência do
COREN e encaminhando às repartições competentes, representações.
A Evolução da Assistência à Saúde nos Períodos Históricos
- Período
Pré-Cristão
neste
período as doenças eram tidas como um castigo de Deus ou resultavam do poder do
demônio. Por isso os sacerdotes ou feiticeiras acumulavam funções de médicos e
enfermeiros. O tratamento consistia em aplacar as divindades, afastando os maus
espíritos por meio de sacrifícios. Usavam-se: massagens, banho de água fria ou
quente, purgativos, substâncias provocadoras de náuseas. Mais tarde os
sacerdotes adquiriam conhecimentos sobre planteas medicinais e passaram a
ensinar pessoas, delegando-lhes funções de enfermeiros e farmacêuticos. Alguns
papiros, inscrições, monumentos, livros de orientações política e religiosas,
ruínas de aquedutos e outras descobertas nos permitem formar uma idéia do
tratamento dos doentes.
- Egito
Os
egípicios deixaram alguns documentos sobre a medicina conhecida em sua época.
As receitas médicas deviam ser tomadas acompanhadas da recitação de fórmulas
religiosas. Pratica-se o hipnotismo, a interpretação de sonhos; acreditava-se
na influência de algumas pessoas sobre a saúde de outras. Havia ambulatórios
gratuitos, onde era recomendada a hospitalidade e o auxílio aos desamparados.
- Índia
Documentos
do século VI a.C. nos dizem que os hindus conheciam: ligamentos, músculos,
nervos, plexos, vasos linfáticos, antídotos para alguns tipos de envenenamento
e o processo digestivo. Realizavam alguns tipos de procedimentos, tais como:
suturas, amputações, trepanações e corrigiam fraturas. Neste aspecto o budismo
contribui para o desenvolvimento da enfermagem e da medicina. Os hindus
tornaram-se conhecidos pela construção de hospitais. Foram os únicos, na época,
que citaram enfermeiros e exigiam deles qualidades morais e conhecimentos
científicos. Nos hospitais eram usados músicos e narradores de histórias para
distrair os pacientes. O bramanismo fez decair a medicina e a enfermagem, pelo
exagerado respeito ao corpo humano - proibia a dissecação de cadáveres e o
derramamento de sangue. As doenças eram consideradas castigo.
- Assíria
e Babilônia
Entre os
assírios e babilônios existiam penalidades para médicos incompetentes, tais
como: amputação das mãos, indenização, etc. A medicina era baseada na magia -
acreditava-se que sete demônios eram os causadores das doenças. Os
sacerdotes-médicos vendiam talismãs com orações usadas contra ataques dos
demônios. Nos documentos assírios e babilônicos não há menção de hospitais, nem
de enfermeiros. Conheciam a lepra e sua cura dependia de milagres de Deus, como
no episódio bíblico do banho no rio Jordão. "Vai, lava-te sete vezes no
Rio Jordão e tua carne ficará limpa".(II Reis: 5, 10-11)
- China
Os
doentes chineses eram cuidados por sacerdotes. As doenças eram classificadas da
seguinte maneira: benignas, médias e graves. Os sacerdotes eram divididos em
três categorias que correspondiam ao grau da doença da qual se ocupava. Os
templos eram rodeados de plantas medicinais. Os chineses conheciam algumas
doenças: varíola e sífilis. Procedimentos: operações de lábio. Tratamento:
anemias, indicavam ferro e fígado; doenças da pele, aplicavam o arsênico.
Anestesia: ópio. Construíram alguns hospitais de isolamento e casas de repouso.
A cirurgia não evoluiu devido a proibição da dissecação de cadáveres.
- Japão
Os
japoneses aprovaram e estimularam a eutanásia. A medicina era fetichista e a
única terapêutica era o uso de águas termais.
- Grécia
As
primeiras teorias gregas se prendiam à mitologia. Apolo, o deus sol, era o deus
da saúde e da medicina. Usavam sedativos, fortificantes e hemostáticos, faziam
ataduras e retiravam corpos estranhos, também tinham casas para tratamento dos
doentes. A medicina era exercida pelos sacerdotes-médicos, que interpretavam os
sonhos das pessoas. Tratamento: banhos, massagens, sangrias, dietas, sol, ar
puro, água pura mineral. Dava-se valor à beleza física, cultural e a
hospitalidade. O excesso de respeito pelo corpo atrasou os estudos anatômicos.
O nascimento e a morte eram considerados impuros, causando desprezo pela
obstetrícia e abandono dos doentes graves. A medicina tornou-se científica,
graças a Hipócrates, que deixou de lado a crença de que as doenças eram
causadas por maus espíritos. Hipócrates é considerado o Pai da Medicina.
Observava o doente, fazia diagnóstico, prognóstico e a terapêutica. Reconheceu
doenças como: tuberculose, malária, histeria, neurose, luxações e fraturas. Seu
princípio fundamental na terapêutica consistia em "não contrariar a
natureza, porém auxiliá-la a reagir". Tratamentos usados: massagens,
banhos, ginásticas, dietas, sangrias, ventosas, vomitórios, purgativos e
calmantes, ervas medicinais e medicamentos minerais.
- Roma
A
medicina não teve prestígio em Roma. Durante muito tempo era exercida por
escravos ou estrangeiros. Os romanos eram um povo, essencialmente guerreiro. O
indivíduo recebia cuidados do Estado como cidadão destinado a tornar-se bom
guerreiro, audaz e vigoroso. Roma distinguiu-se pela limpeza das ruas,
ventilação das casas, água pura e abundante e redes de esgoto. Os mortos eram
sepultados fora da cidade, na via Ápia. O desenvolvimento da medicina dos romanos
sofreu influência do povo grego.
O cristianismo foi a maior revolução social de todos os tempos. Influiu
positivamente através da reforma dos indivíduos e da família. Os cristãos
praticavam uma tal caridade, que movia os pagãos: "Vede como eles se
amam". Desde o início do cristianismo os pobres e enfermos foram objeto de
cuidados especiais por parte da Igreja.
Bibliografia
TURKIEWICZ,
Maria. História da Enfermagem. Paraná, ETECLA, 1995.
GEOVANINI,
telma; ...(et.ali.) História da Enfermagem : versões e Interpretações. Rio de
janeiro, Revinter, 1995.
BRASIL,
Leis, etc. Lei 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos
Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, 13 de julho de 1973. Seção I, p. 6.825.
CONSELHO
FEDERAL DE ENFERMAGEM. Documentos Básicos de Enfermagem.
CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO.